A SAPECAS : Escritores, poetas e artistas
A SAPECAS- Sociedade dos Poetas, Escritores, Compositores e Artistas de Sertânia foi fundada em 8 de fevereiro de 2008, com o objetivo de congregar os que escrevem e poder melhor divulgar a produção da cultura literária e musical sertaniense. De lá prá cá tem acumulado uma série de atividades, levando a poesia aos bairros, aos sítios, as escolas, ao Rádio e a internet, publicando livros, CDs, DVDs, promovendo intercâmbio com outras cidades e sobretudo incentivando as pessoas a lerem e a escreverem , se divertirem através da escrita e da leitura, fazendo delas instrumentos de transformação social. É sediada na Casa dos Poetas, Espaço cultural que possui acervos e serve de ponto para reuniões, recitais e pequenos shows, o local também funciona como Restaurante e bar, oferecendo aos frequentadores uma exposição poética e uma cordelaria, além da gastronomia do sertão do Moxotó e a conhecida cachaça artesanal Moxotesca. A Casa dos Poetas consolidou-se como ponto de encontro de escritores e artistas, mas acima de tudo lugar de resistência cultural. Mas, não é para falar da história da SAPECAS e nem da Casa dos Poetas, que nos propomos, mas analisar um pouco a produção de seus autores, que compõem a Comitiva da SAPECAS, que é formada pela Feira Literária, onde os poetas e prosadores conversam sobre suas obras, Toada que é abodrada e cantada por Fabiano Feitosa e a música autoral, representada por Zé Luiz e Vasconcelos de Sertânia.
A internet original
Não temo despacho na esquina
Alma penada maligna
Passar por debaixo de escada
Balde cair da sacada
Gato preto em minha frente
Diabo de chifre e tridente
Tudo isto é irreal
O que temo é a mentira
Gente que o valor de outra tira
Sendo invejosa e incapaz
Os que criticam até sua roupa
O fuxico o boca a boca
A internet original
Música autoral
A SAPECAS sempre procurou resgatar a obra dos grandes mestres locais , mas também incentivar a difusão da criação autoral de seus membros e de outros poetas e compositores da terra. Este norte principalmente na música, tem sido adotado e estimulado nos nossos projetos. Além do Poeta Gabriel Oscar que canta e compõe e já chegou a gravar um CD alternativo com suas composições, poeta e compositor Josessandro Andrade acumula parcerias com vários artistas de Sertânia em baladas, xotes, arrastapé, frevo, rock e Toada. Mas, , entre o quadro de membros atuais, dos nomes se destacam: Zé Luiz e Vasconcelos de Sertânia. Zé Luiz , cantor , compositor , poeta e professor universitário, residente em Monteiro-PB, mas trabalhou em Sertânia, tendo sido um dos fundadores da SAPECAS.
Profundo conhecedor da alma e da atmosfera cultural , tem criado músicas que falam
De elementos da vida sertaniense, como esta, que retrata uma comunidade da zona rural sertaniense:
Casa velha
Vez em quando a saudade
O meu peito invade
Arrebentando as porteiras
Do meu coração
Um sonho lindo traz a lembrança
Do tempo que a esperança
Alimentava a ilusão
Fogão de lenha o tempo apagou
O umbuzeiro o mato cobriu
Água que tinha no pote secou
O oratório ninguém mais abriu
Mas o riacho outra vez encheu
Pra sua lição de vida ensinar
Não importa as pedras no caminho
O rio segue seu destino
e vai correndo para o mar
Eu quero ver de novo
a alegria no terreiro
O fogão de lenha
pra panela esquenta
Nossa gente reunida
la na sombra do umbuzeiro
Casa velha vida nova
é pra lá que vou voltar
Eu quero ver de novo
a alegria no terreiro
O fogão de lenha
pra panela esquentar
O namoro escondido
lá nas pedras do lajeiro
Casa velha vida nova
nunca deixo de te amar.
Vasconcelos de Sertânia tem gravado o seu CD de estreia, que se constitui num trabalho em defesa da arte nordestina e fortalecimento da cultura do Sertão. Cantor, compositor, músico instrumentista de sanfona, além de fazer releituras de composições outros autores já consagrados, contando com a participação de vários artistas da terra, ele apresenta também músicas de sua autoria, como “Longe de Sertânia” e a “Casa de Taipa”, esta em parceria com o poeta Genival Pereira (Gato Novo), que foi alvo de pesquisa e de estudo de sua obra por parte de Vasconcelos de Sertânia, que revela assim o seu amor pela poesia:
No dia que eu morrer
Quero que cubra o caixão
Com os versos que eu ja fiz
Nesse meu velho sertão
A lista vai ta guardada
Junto com meus Documentos
Ali tem todos os momentos
Em um baú cor de ouro
se existir reencarnação
Quero voltar pro sertão
Sendo pó
eta de novo
“O meu viver entre elas”, de Espedito Matos, expõe os poemas populares de nítida temática cotidiana e memorialística, de um aposentado comerciante de discos, pai de uma família de artistas em Sertânia. Um exemplo de humildade, Espedito Matos é uma lição para muitos idosos: Lição de quem ocupa seu tempo de modo produtivo e fértil, através da poesia, se divertindo resgatando ícones de seu imaginário, se preocupando em prestar homenagens a pessoas simples de sua comunidade. E ainda não se diz poeta, preferindo se autointitular De rimador ou glosador popular, ou ainda CaririXotó, como o batizou o amigo poeta e colega da SAPECAS, Gabriel Oscar, por sua origem no Cariri paraiabano e por ter se radicado no Moxotó Pernambucano. Sua poesia cresce e se agiganta, quando em poemas curtos, rimados ou não, consegue expressar conteúdos sublimes com simplicidade, mas que se potencializam com a força da oralidade:
ADORAR O INVISÍVEL
Deus não dorme
E nem cochila.
Vive sempre a nos olhar
Que seja noite
Ou seja dia
Está nos controlar
Por ele ser invisível
É que estou a lhe adorar
Me desculpem os homens da terra
Neles não posso confiar.
“Impulsos de verdade” dispõe a verve reflexiva e intimista de Luiz Pinheiro, em textos curtos, que transitam entre mensagens ou digressões.
A solidariedade, mais do que
Uma atitude, é um
Estilo de ser e de viver.
Observe a grande
Diferença que uma atitude
Positiva e destituída de egoísmo
Pode fazer em sua vida
e na vida dos outros
que estão recebendo
o apoio oferecido.
“Com Cheiro de mar e quixabeira”, livro de estreia de Josessandro Andrade, que mescla versos livres de arquitetura moderna com poemas de pura artesania de características regionais e populares.
A DESCOBERTA
Amores que sobrevivem escondidos
Como secreto perfume das flores
Por mais perigosos e proibidos
São os melhores de todos os amores.
Carlos Enrique Sierra é um poeta Colombiano, residente em Sertânia, onde vem participando das atividades literárias da cidade do estado, e também das ações da SAPECAS, da qual está fazendo parte. Poeta de projeção internacional, recentemente publicou a sua Antologia Poética, seu mais novo livro, que reúne edição bilíngue ( Espanhol e Português), poemas de Seus três livros anteriores, onde podemos encontrar poemas de sua lírica moderna como o que segue:
PETICIÓN
También el espejo
dirá lo suyo sobre mí
Me verá
hará el juicio
y será drástico en su amnesia
Trocará mi imagen
por outra
Lo hará reir
em frente a mí
FEIRA LITERÁRIA
Os poetas escritores Antony Patricio, Luiz Pinheiro, Flávio Magalhães, Gabriel Oscar, Espedito Matos, Josessandro Andrade e Carlos Enrique Sierra todos com livro publicado falam um pouco sobre suas obras e respondem perguntas sobre seus livros, formuladas pelo mediador e pelo público , além de apresentarem seus poemas.
“Poética de invernia” é um livro que traz a Poesia de Antony Patricio de Sousa Melo Freire, um jovem bacharel em História, Policial Militar, exibindo um verbo eivado de neosimbolismo, patenteado na influência de Ulysses Lins e Waldemar Cordeiro na força imagética de suas construções. O gosto pelos símbolos, a seleção do vocabulário, descrição, preocupação com a sonoridade do verso revelam uma feição de simbolismo moderno, associada a temática social, quando o poeta Tony anuncia:
“... Carrego a evolução no punhal da história
Em tradição de castanhas a sons de violinos
Por trincheiras flamengas de inteiros destinos
A resguardar meu pensamento cigano em Glória...”
“Contagem regressiva” é uma obra que encaderna cinquenta poemas do já cinquentenário Flávio Magalhães, professor e diretor teatral, em poemas que transitam entre o concretismo e outras tendências modernas da poesia brasileira da atualidade.
A Esmo
Um dia sai em busca
De uma mulher perfeita
De um amor real
De um mundo melhor
Nesta busca
tornei-me poeta.
Mergulhei num sonho...
Com o tempo senti que
Tudo isso é mais uma ilusão
No interior de cada pessoa...
Acordei tarde demais...
Tinha me tornado poeta.
“Acontecença Sertaneja” é um álbum literário que mostra os causos matutos contados na pena do amante da cultura popular e do folclore nordestino Luiz Pinheiro Filho, narrando histórias de figuras folclóricas de Sertânia e região.
“... Zezinho e sua paciência inesgotável gostava de tomar uma branquinha nos bares próximos a sua residência. Certa ocasião, estava ele como de costume tomando aguardente no bar de Dona Maria de Maçu, quando chega seu amigo Cão de DER para acompanha-lo nesta missão. Depois de dois “quartinhos” decidiram seguir para o bar do Bó, para dar continuidade a missão diária.
Neste momento a mãe de Zezinho estranhando a demora de sua cria, foi averiguar no bar de Dona Maria o que Zezinho estava aprontando. Chegou ao destino e não encontrou o que estava procurando, perguntou a dona do bar:
- Dona Maria onde está Zezinho?
- Acabou de sair em direção ao bar do Bó. Respondeu Dona Maria.
Rapidamente a mãe de Zezinho seguiu no rasto do filho, e, ao chegar, não o encontrando, indagou:
- Bó, Zezinho passou por aqui?
- Saiu agora mesmo em direção a Zé Lúcio. Disse Bó.
Então saiu ela como uma caçadora em busca de sua caça na direção da bodega de Zé Lúcio, já no seu destino, observando que Zezinho não estava mais ali, meio raivosa perguntou a Zé Lúcio:
- Zé, Zezinho esteve por aqui?
- Tomou um “quartinho” e saiu mais o CÃO.
Dando meia volta e fazendo o sinal da cruz (pois não conhecia esse sujeito), respondeu:
- POIS ESTÁ BEM ACOMPANHADO...”
“Versejando o cotidiano” é um trabalho que vem com a poesia do gari Gabriel Oscar, ex cantor da Orquestra Marajoara, em versos livres de puro lirismo reflexivo. No seu ofício, Gabriel tem se revelado um hábil burilador Textual, explorando no terreno poético elementos da tradição como a rima e o ritmo, mesclados ao despojamento e aironia irreverente, conquista do verso livre, numa dicção própria de quem tem estilo pessoal.
Categoria: Casa dos Poetas
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